JESUS CRISTO.
O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DO APÓSTOLO PEDRO - 2 (PEDRO ANTES E DEPOIS DE JESUS CRISTO).
"E Pedro e João subiam juntos ao templo a hora da oração, a nona. E era trazido um varão que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham á porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam. O qual, vendo a Pedro e a João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola. E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós. E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa. E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de JESUS CRISTO, o Nazareno, levanta-te e anda. E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a DEUS. E todo o povo viu andar e louvar a DEUS; e conheciam-no, pois era ele o que se assentava a pedir esmola a porta Formosa do templo, e ficaram cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera. Atos 3.1-10".
JESUS disse reiteradas vezes que partiria. Seria preso, torturado. Como pode alguém que desarma a mente de qualquer opositor morrer de modo tão vil? Como pode alguém que discursa sobre a eternidade terminar a vida pendurado numa trave de madeiro? Para Pedro isso parecia impossível. Mas, á medida que o fim se aproximava, o discípulo pressentiu que perderia JESUS. Ficou incomodado. Não compreendia que a cruz era o desejo do seu Mestre JESUS CRISTO, e não uma fatalidade.
O carpinteiro da emoção esculpiu o amor na alma do pescador. O pescador aprendeu a amar. Amou intensamente o carpinteiro e as pessoas que o cercavam. Pedro talvez tivesse morrido pescador se JESUS não o tivesse encontrado. Ao segui-lo Pedro passou a ver a humanidade de modo diferente. A vida ganhou um novo sentido. O tédio diluiu-se, a repetição dissipou-se e a paz alcançou níveis inimagináveis.
Andar com JESUS era uma aventura maior do que viver no mar. Diariamente havia coisas novas. Quando JESUS insinuou a grande despedida na última ceia, uma tristeza aguda abarcou a emoção de pedro. O teatro da sua mente foi invadido por pensamentos sombrios.
JESUS caminhou para o jardim do Getsêmani e seus discípulos, inconformados, o acompanharam. Comentei esse assunto em outros textos, na perspectiva de JESUS; agora preciso comentá-lo na perspectiva dos discípulos. A mente deles não parava de pensar e roubar energia do córtex cerebral, produzindo um desgaste enorme, uma fadiga intensa. Em poucas horas eles gastaram mais energia do que em dias de trabalho braçal extenuante.
No Getsêmani, JESUS chamou em particular Pedro, Tiago e João. Subitamente, o Mestre JESUS disse algo incomum: falou sobre sua dramática dor emocional. Permitiu que eles vissem suas reações de estresse. Os olhos dos discípulos presenciaram um espetáculo único. Os capilares de JESUS estouravam na periferia da pele, produzindo um suor sanguinolento. Quantos pensamentos não passaram na mente de Pedro? JESUS angustiado, sofrendo, confessando sua dor? Impossível!
Ele observava a queixa do Mestre dos Mestres JESUS suplicantes ao Pai e ficava cada vez mais perplexo "E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; fica aqui, e velai comigo. Mateus 26.37-38". O Mestre JESUS imbatível chorava diante do caos. JESUS, que enfrentara o mundo, pedia agora que fosse afastado dele o cálice? Que cálice era esse? Que fuga era essa? Pedro começou a negar JESUS naquele momento. Ele não compreendia que JESUS clamava para que seu Pai afastasse não o cálice da sua cruz, mas o cálice da sua mente, os pensamentos antecipatórios sobre o cálice da cruz que dilaceravam sua emoção.
A fadiga emocional de Pedro aumentou ainda mais. Seu cérebro, para evitar um colapso e economizar energia, provocou-lhe sonolência. Acabaram-se suas reservas. Pedro dormiu juntamente com Tiago e João. No momento em que JESUS mais precisava deles, não conseguiram estar alertas.
Ao ver seu Mestre JESUS preso, Pedro ainda demostrou alguma força, mas já cambaleava. O silêncio de Judas o amedrontou. Os discípulos fugiram, Pedro segui-o a distância. Disfarçadamente, penetrou no pátio do sinédrio. Não se deu conta de que, ao mesmo tempo, entrava no pátio da sua emoção, percorria as vielas do medo e vivia o mais intenso treinamento da sua personalidade.
JESUS era questionado, mas nada respondia. O silêncio de JESUS ecoava como uma cascata na alma de Pedro. As sessões de espancamento ferindo o rosto do Mestre JESUS eram um espetáculo de terror. O medo irracional é o maior ladrão da inteligência. Um pequeno inseto pode se tornar um monstro, uma taquicardia pode gerar a falsa impressão de infarte, um elevador pode se tornar um cubículo sem ar. O medo traz á luz os fantasmas.
Pedro reagia por instinto. Seu cérebro clamava para que ele saísse de cena, mas a intensidade do medo e do conflito existencial que o dominava o paralisaram. Quando questionado, negou JESUS. Questionado pela segunda vez, negou novamente. Na terceira vez foi longe demais: "Eu não conheço esse homem! Nunca andei com ele! Não faço a mínima ideia de quem seja. Mateus 26.29". Horas antes ele jurara que morreria com JESUS, mas agora JESUS era um estranho para ele.
No livro O MESTRE dos MESTRES vimos que, quando Pedro o nega pela terceira vez, JESUS se esquece da sua dor e o acolhe com o mais sublime olhar. O carpinteiro e o pescador se reencontraram num dos olhares mais belo das história. JESUS estava ferido e encontrava-se afastado. Não havia possibilidade de falar com Pedro e consolá-lo. Mas, quando as palavras lhe faltaram, o Mestre JESUS falou com os olhos. falou que compreendia a fragilidade do seu discípulo querido, que em hipótese alguma esqueceria, que o amaria para sempre, ainda que ele o negasse inúmeras vezes.
O olhar de JESUS desbloqueou a mente de Pedro e ele caiu em si. Saiu de cena e foi chorar. Chorou amargamente. Ninguém poderia consolá-lo. Cada gota de lágrima foi uma lição de vida. Cada gota de lágrima irrigou a sua capacidade de refletir. Ele não acreditava no que tinham feito. Nunca se vira tão frágil. Jamais traíra seus sentimentos.
Todos nós estamos, de alguma forma, representados na história de Pedro. JESUS não apenas o acolheu, mas acolheu todas as pessoas que são controladas pelo medo, que não conhecem seus limites, que nos momentos de tensão reagem sem pensar.
Quem não tem atitudes como as de Pedro? Quem é plenamente fiel a sua consciência em todos os momentos da própria história? Quem não é escravo do medo quando está doente ou correndo risco de morte? Quem não é tomado pela ansiedade quando ofendido, ameaçado, pressionado? quem não nega as próprias convicções diante das tempestades da vida?
Desconfie das pessoas que não reconhecem suas fraquezas. Todos temos nossos limites. Muitos dos que se julgam estáveis e seguros não suportam situações imprevisíveis. Uma crise financeira é capaz de roubar-lhes a tranquilidade. Um fracasso os deprime. Uma crítica os leva a reações intempestivas. Uma doença os deprime.
Pedro era ansioso, mas não volúvel. Seu caráter era sólido. Seu erro foi muito grave, mas ele negou JESUS CRISTO porque um medo intenso obstruiu as janelas de sua inteligência. Se vivêssemos naquele tempo, muitos de nós não cometeríamos esse erro porque não teríamos sequer coragem de entrar naquele pátio.
Pedro não cometeu erros menos graves do que Judas. Judas traiu JESUS por trinta moedas de prata e pedro o negou veementemente para três pessoas de baixa posição social. Um traiu, outro negou. Os dois erros foram grandes e graves. Mas geraram dois destinos diferentes.
Tanto Judas quanto Pedro choraram intensamente. Ambos experimentaram um dramático sentimento de culpa. Pedro amava intensamente JESUS e Judas o admirava intensamente. O amor de Pedro resistiu ao drama da culpa, a admiração de Judas sucumbiu a ela.
Pedro recordou que JESUS dissera que ele o negaria, e Judas, que ele o trairia. Pedro foi alcançado por um olhar de JESUS. Judas teve um privilégio maior, pois JESUS o chamou de amigo no ato da traição. Pedro compreendeu o olhar de JESUS. Judas não compreendeu a palavra "AMIGO". Judas ão compreendeu a compaixão do Mestre JESUS. O resultado?
Pedro se perdoou, Judas se puniu. Cada gota de lágrimas que Pedro derramou produziu uma amarga lição de vida, e cada gota de lágrima que Judas derramou produziu um amargo sentimento de culpa. A dor de Pedro arejou a sua emoção, fê-lo compreender a sua fragilidade. A dor de Judas sufocou sua emoção e tornou-se uma pessoa indigna.
Judas cortou relações com todos. Pedro não se isolou diante da dor. Teve a coragem de contar aos amigos o seu erro. Por isso, sua negação foi comentada nos quatro evangelhos e foi alvo de inúmeras conversas entre os primeiros cristãos. Todos se reconheceram em Pedro. A sua história revela um homem que aprendeu a ser grande por enxergar e admitir a sua pequenez. Só os grandes homens são capazes desse gesto.
Semanas mais tarde, após a morte de JESUS, Pedro teve reações inusitadas. Ele, que havia negado a JESUS para pessoas simples, falou publicamente para milhares de pessoas sobre seu amor pelo Mestre JESUS, incendiando o amor na multidão. "Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Varrões judeus, e todos os que habitam em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escultai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. DEUS ressuscitou a este JESUS, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de DEUS, e tendo recebido do Pai a promessa do ESPÍRITO SANTO, derramou isto que agora vedes e ouvis. atos 2.14-15;32-33".
Após esse fato, Pedro foi preso diversas vezes, mas nunca mais negou a JESUS. Esteve diante dos homens do sinédrio que tinham mandado espancar o Mestre JESUS, mas dessa vez foi seguro e eloquente. Fitou-se e disse que JESUS tinha ressuscitado, que vencera o inimaginável, o caos da morte.
A superação da morte de JESUS é uma noticia maravilhosa, mas entra na esfera da FÉ, transcendem a investigação da ciência. Extrapola a análise proposta por esta coleção. O que desejo ressaltar aqui é que, após a morte de JESUS, o Pedro tímido e amedrontado se converteu num homem destemido e imbatível.
Se pedro não tivesse negado JESUS, talvez não tivesse reeditado algumas áreas doentias da sua personalidade. Mas ao conhecer seus limites e aprender a chorar, seu espírito inundou-se de um amor indecifrável. Esse amor penetrou em cada área de sua alma e o transformou, pouco a pouco, num homem dócil, amável, gentil, tolerante.
As duas cartas que escreveu no final da vida refletem a sua mudança. Revelam um pensador sensível, arguto e afável. Pedro comentou nos seus escritos que devemos nos amar ardentemente com um amor genuíno. Disse que devemos nos despojar de toda inveja, maldade e falsidade. Comentou algo surpreendente: Que JESUS vivia no secreto do seu ser. Foi ainda mais longe, dizendo que a dinâmica das relações sociais deve mudar, que não devemos pagar mal com mal, injuria com injuria.
A emoção de Pedro exalava sensibilidade No final da sua primeira carta enumerou os princípios que definem um verdadeiro líder. Assimilando as palavras do Mestre dos Mestres JESUS, afirmou que os líderes não devem controlar as pessoas, nem ser gananciosos, mas modelos de humildade, sobriedade, ânimo, mesmo diante das turbulências da existência. E terminou como o mais poético dos escritores: "Saudai-vos uns aos outros com o ósculo do amor. Paz para todos vós que estais em CRISTO. 1 Pedro 5.14".
Na sua juventude Pedro não admitia desaforos. Era difícil encontra sensibilidade nos seus gestos. Era capaz de usar a espada se fosse contrariado. Mas o jovem irritado e insensível transformou-se num poeta da solidariedade. Ele termina sua mais longa carta sem criticas, cobranças, sem apontar defeitos. Termina se despedindo de forma sublime, distribuindo beijos de amor para todos. Como esse Pedro estava longe do Pedro individualista e agressivo dos tempos em que enfrentava o mar! JESUS revolucionara a sua vida.
Nunca o amor curou tanto as feridas da alma. Nunca se soube de alguém que aprendeu tanto tendo tão pouco. O apóstolo Pedro se tornou também um Mestre da Vida.
DIÁCONO: LUIS MARIANO SIQUEIRA.
LIVRO O MESTRE INESQUECÍVEL.
AUGUSTO CURY
CARPINA - PERNAMBUCO 26/07/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário